Entendendo a Síndrome do Anticorpo Antifosfolípide (SAF): Uma Conversa com a Dra. Tayana Mello
A Síndrome do Anticorpo Antifosfolípide (SAF) é uma condição médica que merece atenção especial, principalmente para aqueles que tiveram trombose venosa ou complicações na gravidez. A Dra. Tayana Mello, uma renomada hematologista adulto e pediatra e diretora do Instituto de Hematologia e Trombose Campinas, compartilhou seus conhecimentos sobre essa síndrome em uma conversa esclarecedora. Neste artigo, vamos explorar os aspectos essenciais da SAF, seu diagnóstico e tratamento.
O que é a Síndrome do Anticorpo Antifosfolípide (SAF)?
A SAF é uma trombofilia adquirida, o que significa que não é uma condição hereditária. Ela ocorre quando o sistema imunológico do corpo produz anticorpos contra os fosfolipídios, substâncias que desempenham um papel crucial no processo de coagulação sanguínea. Esses anticorpos criam um ambiente pró-trombótico e pró-inflamatório na camada interna dos vasos sanguíneos, conhecida como endotélio vascular. Em essência, a SAF é uma doença autoimune sistêmica.
Existem dois principais tipos de SAF: primária e secundária. A SAF primária ocorre quando a síndrome está presente sem a presença de outras doenças autoimunes. Por outro lado, a SAF secundária ocorre quando a SAF é associada a outras condições autoimunes, como o lúpus.
Como a SAF Afeta o Corpo?
A complicação mais comum associada à SAF é a trombose. Essas tromboses podem ocorrer em veias e artérias, levando a sérios problemas de saúde. Em alguns casos, essas tromboses ocorrem de forma espontânea, afetando jovens que, de outra forma, não teriam outros fatores de risco.
Tromboses arteriais, como um acidente vascular cerebral (AVC), e tromboses venosas, como trombose venosa profunda (TVP) ou embolia pulmonar (TEP), são comuns em pacientes com SAF. O risco de formação de coágulos sanguíneos em pessoas com SAF é significativamente elevado, tornando o diagnóstico e o tratamento precoces essenciais.
SAF na Gravidez
A SAF pode impactar a gravidez de maneira significativa. Os anticorpos associados à SAF podem interferir na fixação do embrião na parede do útero, aumentando o risco de complicações graves na gestação. Problemas obstétricos, como abortos precoces recorrentes, perda fetal após a décima semana de gestação e parto prematuro antes das 34 semanas devido a condições como eclâmpsia, pré-eclâmpsia ou insuficiência placentária, estão associados à SAF. É importante observar que essas complicações geralmente se manifestam a partir do segundo trimestre da gravidez.
Diagnóstico e Tratamento da SAF
O diagnóstico da SAF é baseado em critérios clínicos e laboratoriais. Três tipos de anticorpos são testados: o anticoagulante lúpico, anticardiolipina e anti B2 glicoproteína 1. A persistência de um desses anticorpos, com um intervalo mínimo de 3 meses, em associação com trombose ou complicações obstétricas, confirma o diagnóstico de SAF.
O tratamento da SAF é focado na anticoagulação de longo prazo. A droga preferencial é a Varfarina, um antagonista da vitamina K, que é altamente eficaz na prevenção de tromboses. Quando o controle da coagulação com Varfarina é desafiador ou em casos de menor risco trombótico, novos anticoagulantes orais podem ser indicados.
Em casos de SAF gestacional, são usadas baixas doses de aspirina e anticoagulação com heparina de baixo peso molecular, como a enoxaparina. Durante o pré-natal, é essencial realizar um monitoramento rigoroso do crescimento fetal para garantir a saúde da mãe e do bebê.
Portadores Assintomáticos
É importante observar que nem todas as pessoas com anticorpos associados à SAF desenvolverão sintomas. Alguns indivíduos podem ter resultados positivos nos testes laboratoriais sem apresentar sintomas. Essas pessoas são consideradas portadoras assintomáticas. Nesses casos, é crucial avaliar o tipo e a persistência desses anticorpos, pois eles podem ser transitórios e não ter relevância clínica.
Em resumo, a SAF é uma condição complexa que requer atenção médica especializada. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado são essenciais para prevenir complicações graves, como tromboses e complicações obstétricas. Se você ou alguém que você conhece está em risco de SAF, é importante buscar orientação médica para avaliação, diagnóstico e tratamento adequados. Com o apoio médico adequado, é possível gerenciar essa condição e proteger a saúde. Agradecemos à Dra. Tayana Mello por suas valiosas informações sobre a SAF e seu impacto na saúde.
Bibliografia:
- Garcia D, Erkan D. Diagnosis and Management of the Antiphospholipid Syndrome. N Engl J Med. 2018 May 24;378(21):2010-2021
- Tektonidou MG, Andreoli L, Limper M, et al. EULAR recommendations for the management of antiphospholipid syndrome in adults. Annals of the Rheumatic Diseases 2019;78:1296-1304.
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Bjos.
Thalita Mara